terça-feira, 30 de novembro de 2010
segunda-feira, 29 de novembro de 2010
A F., Favorecendo com a boca e desprezando com os olhos
Quando o sol nasce e a sombra principia,
A doce abelha, a borboleta airosa
Procura luz ardente e fresca rosa
Que faz a terra céo e a noite, dia.
Mas quando à flor se entrega, à luz se fia,
Uma fica infeliz outra ditosa;
Pois vive a abelha e morre a mariposa
Na favorável rosa e chama ímpia.
Fílis, abelha sou, sou borboleta,
Que com afecto igual, com igual sorte,
Busco em vós melhor luz, flor mais selecta;
Mas quando a flor é branda, a chama é forte,
Néctar acho na flor, na luz cometa,
A boca me dá vida, os olhos morte.
Jerónimo Baía
A doce abelha, a borboleta airosa
Procura luz ardente e fresca rosa
Que faz a terra céo e a noite, dia.
Mas quando à flor se entrega, à luz se fia,
Uma fica infeliz outra ditosa;
Pois vive a abelha e morre a mariposa
Na favorável rosa e chama ímpia.
Fílis, abelha sou, sou borboleta,
Que com afecto igual, com igual sorte,
Busco em vós melhor luz, flor mais selecta;
Mas quando a flor é branda, a chama é forte,
Néctar acho na flor, na luz cometa,
A boca me dá vida, os olhos morte.
Jerónimo Baía
Georges de La Tour, Maria Madalena, c. 1625-1650
Gloriae Mundi
Barroco,
Georges de La Tour,
Poesia
sexta-feira, 26 de novembro de 2010
quinta-feira, 25 de novembro de 2010
O Desespero da Velha
A velha, pequenina e encarquilhada, ficou toda contente ao ver a linda criança a quem todos faziam festas, a quem toda a gente queria agradar: aquele serzinho, tão frágil como ela, a pequenina velha, e, também como ela, sem dentes e sem cabelo.
E ela então aproximou-se, procurando desfazer-se em risadinhas e trejeitos agradáveis.
Mas a criança, cheia de susto, estrebuchava sob as carícias da boa senhora decrépita, e enchia a casa toda com os seus guinchos.
Então a boa velhinha retraiu-se para a sua eterna solidão, e ficou a chorar num canto, dizendo consigo: - "Ah! para nós desgraçadas fêmeas idosas, já passou o tempo de agradar, mesmo aos inocentes; metemos medo aos próprios pequeninos a quem temos desejo de amar!"
in O Spleen de Paris, de Charles Baudelaire
Mrs T. Charlton Henry (1965), de Diane Arbus
Gloriae Mundi
Alegorias da Vaidade,
Baudelaire
quarta-feira, 24 de novembro de 2010
Máscaras
Eyes Wide Shut, realizado por Stanley Kubrick, é baseado no conto Traumnovelle (História de um Sonho), de Arthur Schnitzler. Escrito em 1926, descreve os momentos de alucinação consciente de um jovem médico, na Viena de Áustria do início do século XX. Entre cafés, casas de prostituição e ruas obscuras, apercebe-se do seu Ego e dos seus instintos.
Gloriae Mundi
Máscaras,
Stanley Kubrick
Migrations
Migrations, de Jocelyn Pook - banda sonora de Eyes Wide Shut (1999), de Stanley Kubrick
Gloriae Mundi
Jocelyn Pook,
Stanley Kubrick
terça-feira, 23 de novembro de 2010
Mundo
No mundo só fantasia existe: está comigo decidir se ela é o tudo ou o nada, já que me não pode socorrer o exterior, tão interior como eu ou eu tão exterior como ele, os dois afinal num mundo em que também é a fantasia a distinção entre um e outro.Agostinho da Silva, Pensamento em Farmácia de Província
Dmitri Shostakovich - Valsa No. 2
Gloriae Mundi
Agostinho da Silva,
Alegorias da Vida,
Música
segunda-feira, 22 de novembro de 2010
domingo, 21 de novembro de 2010
O colchão dentro do toucado
Chaves na mão, melena desgrenhada,
Batendo o pé na casa, a Mãe ordena
Que o furtado colchão, fofo e de pena,
A filha o ponha ali ou a criada.
A filha, moça esbelta e aperaltada
Lhe diz co´a doce voz que o ar serena:
“Sumiu-se-lhe um colchão, é forte pena!
Olhe não fique a casa arruinada …”
“Tu respondes assim? Tu zombas disto?
Tu cuidas que, por ter pai embarcado,
Já a mãe não tem mãos?” E dizendo isto,
Arremete-lhe á cara e ao penteado.
Eis senão quando (caso nunca visto)
Sai-lhe o colchão de dentro do toucado.
Eis senão quando (caso nunca visto)
Sai-lhe o colchão de dentro do toucado.
Nicolau Tolentino
Gloriae Mundi
Alegorias da Vaidade,
Barroco,
Nicolau Tolentino,
Poesia
sábado, 20 de novembro de 2010
Opiário (Parte I)
Opiário de Álvaro de Campos in Humores I, dito por Mário Viegas
Gloriae Mundi
Fernando Pessoa,
Mário Viegas,
Ópio,
Poesia
Opiário (Parte II)
Opiário, de Álvaro de Campos, dito por Mário Viegas
Gloriae Mundi
Fernando Pessoa,
Mário Viegas,
Ópio,
Poesia
quinta-feira, 18 de novembro de 2010
À fragilidade da vida
Esse baixel nas praias derrotado
Foi nas ondas Narciso presumido;
Esse farol nos céus escurecido
Foi do monte libré, gala do prado.
Esse nácar em cinzas desatado
Foi vistoso pavão de Abril florido;
Esse Estio em Vesúvios encendido
Foi Zéfiro suave, em doce agrado.
Se a nau, o Sol, a rosa, a Primavera
Estrago, eclipse, cinza, ardor cruel
Sentem nos auges de um alento vago,
Olha, cego mortal, e considera
Que és rosa, Primavera, Sol, baixel,
Para ser cinza, eclipse, incêndio, estrago.
Foi nas ondas Narciso presumido;
Esse farol nos céus escurecido
Foi do monte libré, gala do prado.
Esse nácar em cinzas desatado
Foi vistoso pavão de Abril florido;
Esse Estio em Vesúvios encendido
Foi Zéfiro suave, em doce agrado.
Se a nau, o Sol, a rosa, a Primavera
Estrago, eclipse, cinza, ardor cruel
Sentem nos auges de um alento vago,
Olha, cego mortal, e considera
Que és rosa, Primavera, Sol, baixel,
Para ser cinza, eclipse, incêndio, estrago.
Francisco de Vasconcelos (1665-1723), FÉNIX RENASCIDA III
William Dyce, Omnia Vanitas
Gloriae Mundi
Barroco,
Francisco de Vasconcelos,
Poesia,
Vanitas
quarta-feira, 17 de novembro de 2010
O Fantoche
O virtuoso não serve a música. Serve-se dela.
- Jean Cocteau
Carlos Paredes: O Fantoche
- Jean Cocteau
Carlos Paredes: O Fantoche
Gloriae Mundi
Carlos Paredes,
Música
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Em busca da Beleza
Soam vãos, dolorido epicurista,
Os versos teus, que a minha dor despreza;
Já tive a alma sem descrença presa
Desse teu sonho, que perturba a vista.
Da Perfeição segui em vã conquista,
Mas vi depressa, já sem a alma acesa,
Que a própria idéia em nós dessa beleza
Um infinito de nós mesmos dista.
Nem à nossa alma definir podemos
A Perfeição em cuja estrada a vida,
Achando-a intérmina, a chorar perdemos.
O mar tem fim, o céu talvez o tenha,
Mas não a ânsia da Coisa indefinida
Que o ser indefinida faz tamanha.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
"Morte em Veneza, de Luchino Visconti, 1971
Os versos teus, que a minha dor despreza;
Já tive a alma sem descrença presa
Desse teu sonho, que perturba a vista.
Da Perfeição segui em vã conquista,
Mas vi depressa, já sem a alma acesa,
Que a própria idéia em nós dessa beleza
Um infinito de nós mesmos dista.
Nem à nossa alma definir podemos
A Perfeição em cuja estrada a vida,
Achando-a intérmina, a chorar perdemos.
O mar tem fim, o céu talvez o tenha,
Mas não a ânsia da Coisa indefinida
Que o ser indefinida faz tamanha.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
"Morte em Veneza, de Luchino Visconti, 1971
Gloriae Mundi
Alegorias da Morte,
Cinema,
Fernando Pessoa,
Poesia,
Visconti
segunda-feira, 15 de novembro de 2010
sábado, 13 de novembro de 2010
Das Delícias Terrenas
O tríptico O Jardim das Delícias Terrenas (c. 1503 - 1510), de Hieronymus Bosch, descreve a história do Mundo a partir da criação, apresentando o Paraíso e o Inferno nos painéis laterais. Ao centro surge a celebração dos prazeres da carne.
Entre o bem e o mal está a vida e o pecado. No jardim do painel central, as representações do gozo e do prazer reflectem um carácter efémero da vida.
Nesta sátira dos pecados e desvarios da humanidade, a par de uma censura implacável, encontramos a fantasia poética, divertida e irónica.
Gloriae Mundi
Alegorias da Vida,
Bosch
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Lachrimae Antiquae
John Dowland (1563-1626) foi um músico e alaúdista inglês, do período renascentista, contemporâneo de William Shakespeare.
Jordi Savall - Hespérion XX - "Lachrimae Antiquae" de John Dowland
Jordi Savall - Hespérion XX - "Lachrimae Antiquae" de John Dowland
Gloriae Mundi
John Dowland,
Lachrimae Antiquae,
Música
quinta-feira, 11 de novembro de 2010
Beleza Efémera e Inatingível
À une passante
La rue assourdissante autour de moi hurlait.
Longue, mince, en grand deuil, douleur majestueuse,
Une femme passa, d'une main fastueuse
Soulevant, balançant le feston et l'ourlet;
Agile et noble, avec sa jambe de statue.
Moi, je buvais, crispé comme un extravagant,
Dans son oeil, ciel livide où germe l'ouragan,
La douceur qui fascine et le plaisir qui tue.
Un éclair... puis la nuit! — Fugitive beauté
Dont le regard m'a fait soudainement renaître,
Ne te verrai-je plus que dans l'éternité?
Ailleurs, bien loin d'ici! trop tard! jamais peut-être!
Car j'ignore où tu fuis, tu ne sais où je vais,
Ô toi que j'eusse aimée, ô toi qui le savais!
Charles Baudelaire - Tableaux Parisiens - Fleurs du Mal (1861)
La rue assourdissante autour de moi hurlait.
Longue, mince, en grand deuil, douleur majestueuse,
Une femme passa, d'une main fastueuse
Soulevant, balançant le feston et l'ourlet;
Agile et noble, avec sa jambe de statue.
Moi, je buvais, crispé comme un extravagant,
Dans son oeil, ciel livide où germe l'ouragan,
La douceur qui fascine et le plaisir qui tue.
Un éclair... puis la nuit! — Fugitive beauté
Dont le regard m'a fait soudainement renaître,
Ne te verrai-je plus que dans l'éternité?
Ailleurs, bien loin d'ici! trop tard! jamais peut-être!
Car j'ignore où tu fuis, tu ne sais où je vais,
Ô toi que j'eusse aimée, ô toi qui le savais!
Charles Baudelaire - Tableaux Parisiens - Fleurs du Mal (1861)
Gustav Klimt, Retrato de Adele Bloch Bauer
Gloriae Mundi
Alegorias da Vida,
Baudelaire,
Klimt,
Poesia
quarta-feira, 10 de novembro de 2010
La Dolce Vita
O mistério da vida e a beleza que fluem das águas da Fonte Trevi. Sylvia é como a água, chamando para a vida.
"Quem és tu?" pergunta o homem - o que é a vida? O mistério é revelado no silêncio... só assim se apreende a beleza do momento.
La Dolce Vita, de Federico Fellini, 1960
"Quem és tu?" pergunta o homem - o que é a vida? O mistério é revelado no silêncio... só assim se apreende a beleza do momento.
La Dolce Vita, de Federico Fellini, 1960
Gloriae Mundi
Alegorias da Vida,
Cinema,
Fellini,
La Dolce Vita
terça-feira, 9 de novembro de 2010
Flow My Tears
Andreas Scholl - "Flow my tears" (de John Dowland)
Gloriae Mundi
Flow My Tears,
John Dowland,
Música
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
O Cavaleiro e a Morte
O Sétimo Selo, de Ingmar Bergman, 1956
Gloriae Mundi
Alegorias da Morte,
Cinema,
Ingmar Bergman
A Procissão dos Condenados
O sentimento trágico da vida e a sua amarga pena. Os metafísicos efabulados - Purgatório, Inferno e Paraíso...
O medo do nada!
O Sétimo Selo, de Ingmar Bergman, 1956
O medo do nada!
O Sétimo Selo, de Ingmar Bergman, 1956
Gloriae Mundi
Alegorias da Morte,
Cinema,
Ingmar Bergman
domingo, 7 de novembro de 2010
A Dança da Morte
As Danças Macabras eram um tema popular na arte da Idade Média e dos primórdios do Renascimento. Nesses tempos idos, devastados por pestes e insuficiências médicas e sanitárias, subnutrição, promiscuidade e falta de higiene, tudo favorecia o "trabalho" eficaz da Cefeira...
Os quatro Cavaleiros do Apocalipse – a Guerra, a Fome, a Peste... e a Morte.
A "grande mofina" que vai ceifando vidas metodicamente, dizimando multidões de "almas" de todas as classes e idades, sem excepções nem contemplações, aceitando no seu seio maldito a mais desvairada diversidade da espécie humana...
Música de Tomaso de Celano - Dies Irae
A Dança da Morte (1538), de Hans Holbein (c.1497-1543)
Gloriae Mundi
Alegorias da Morte,
Hans Holbein,
Música
sábado, 6 de novembro de 2010
Nascido da luz e das trevas
Il Trionfo di Bacco
Dionísio, cujo nome significa o que “nasceu duas vezes”, é filho de Zeus e de uma princesa mortal de Tebas, Sémele.
A esposa imortal de Zeus, Hera, enfurecida com a infidelidade do marido, disfarçou-se de ama-seca e foi até Sémele, ainda grávida, para persuadi-la a pedir que seu marido se mostrasse em todo seu esplendor e glória divinos.
Zeus que prometera a Sémele jamais lhe negar coisa alguma, assim o fez para satisfazê-la. Sémele não suportou a visão do deus circundado de clarões e morreu fulminada. Zeus apressou-se então a retirar a criança que ele gerava e ordenou a Hermes, o mensageiro dos deuses, que costurasse o feto em sua própria coxa. Assim, ao terminar a gestação, Dionísio nasceu perfeito.
Contudo, Hera não satisfeita, continuou a perseguir a estranha criança de chifres e ordenou aos Titãs que matassem o menino, fazendo-o em pedaços. Novamente Zeus interferiu e conseguiu resgatar o coração da criança que ainda batia. Colocou-o para cozinhar, junto com a semente de romã, transformando tudo numa poção mágica, a qual deu de beber a Perséfone, que acabara de ser raptada por Hades, deus das trevas e da escuridão, e que se tornara sua esposa. Perséfone engravidou e novamente deu à luz Dionísio. Por essa razão Dionísio é o que nasceu duas vezes, da luz e das trevas.
O seu pai celestial ordenou-lhe que vivesse na terra junto aos homens para compartilhar com eles as alegrias e sofrimentos dos mortais. Dionísio foi atingido pela loucura de Hera, indo perambular pelo mundo, ao lado de sátiros selvagens, dos loucos e dos animais. Deu à humanidade o vinho e suas benções, concedendo ao êxtase da embriaguez a redenção espiritual para todos os que decidiam renunciar às riquezas e ao poder material. Por fim, Zeus permitiu-lhe retornar ao Olimpo, onde tomou o seu lugar à direita do deus dos deuses.
quarta-feira, 3 de novembro de 2010
segunda-feira, 1 de novembro de 2010
Poemas de Cabaret
XIV Poemas de Cabaret, 1933 - José Gomes Ferreira
Gloriae Mundi
Mário Viegas,
Poesia
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