Quando a morte cai sobre as pessoas
é porque tem as asas cansadas
de dar voltas ao mundo.
Escolhe, hesitante, um dos seus cantores.
Escolhe quem, matinalmente, se cumprimenta.
A morte um dia esquece e desce
sobre os mesmos reverentes.
Esqueceu tudo o que dissera.
Ou fingiu que esqueceu tudo.
Alguém parou misteriosamente de falar.
E o silêncio quer dizer: “Acabou tudo.”
Quer dizer: “venham comigo até aquelas grutas!”
Agora finjam que estão velhos.
E que ninguém está nada triste.
Olhem para as vossas pernas,
não há pernas!
Nem mãos,
excepto para tocar em coisas indescritíveis.
As crianças que morriam.
Vou viver para a neve com os meus filhos
mergulhar nos rios soturnos e profundos
em segundos.
Por entre as algas e os peixes que prendiam
os braços das crianças que agarravam
os polvos misteriosos que ensinavam
a nadar os que mereciam.
Se a mim viesse algum dos mortos que ensinasse
a morrer a quem vivesse
a nadar a quem andasse
a dormir a quem falasse
Sem parar.
Imitaria a vida que vivesse
esse monstro que ensinasse
O vazio que sentes, cada vez mais,
é o dos traidores.
Também os monumentos, por dentro, estão vazios,
com as entranhas cheias de óxido e morte:
escuros e apodrecidos pela história,
é tão sinistro o seu interior
como arrogante o gesto que o personagem
traça no ar.
Conforme os amigos nos vão traindo
- e a morte é também uma traição –
assim nos vamos convertendo em monumentos.
Por fora fica um resto de eloquência,
sobretudo ao falar com alguém jovem,
mas a voz ressoa no vazio,
perdida entre os ferros de uma trama oculta
que se desfolha em leves capas de óxido.
Remember me when I am gone away,
Gone far away into the silent land;
When you can no more hold me by the hand,
Nor I half turn to go yet turning stay.
Remember me when no more day by day
You tell me of our future that you plann'd:
Only remember me; you understand
It will be late to counsel then or pray.
Yet if you should forget me for a while
And afterwards remember, do not grieve:
For if the darkness and corruption leave
A vestige of the thoughts that once I had,
Better by far you should forget and smile
Than that you should remember and be sad.
“Tomorrow, and tomorrow, and tomorrow
Creeps in this petty pace from day to day,
To the last syllable of recorded time;
And all our yesterdays have lighted fools
The way to dusty death.
Out, out, brief candle!
Life’s but a walking shadow, a poor player
That struts and frets his hour upon the stage
And then is heard no more. It is a tale
Told by an idiot, full of sound and fury
Signifying nothing.”
A morte virá e terá os teus olhos –
esta morte que nos acompanha
da manhã à noite, insone,
surda, como um velho remorso
ou um vício absurdo. Os teus olhos
serão uma palavra vã,
um grito calado, um silêncio.
Assim os vês cada manhã
quando, sob ti só, pendes
no espelho. Oh, que esperança,
nesse dia saberemos, também nós,
que és a vida e és o nada.
A morte tem um olhar para todos.
A morte virá e terá os teus olhos.
Será como deixar um vício,
como ver no espelho
ressurgir uma face morta,
como ouvir os lábios fechados.
Desceremos mudos ao abismo.
Do not go gentle into that good night,
Old age should burn and rave at close of day;
Rage, rage against the dying of the light.
Though wise men at their end know dark is right,
Because their words had forked no lightning they
Do not go gentle into that good night.
Good men, the last wave by, crying how bright
Their frail deeds might have danced in a green bay,
Rage, rage against the dying of the light.
Wild men who caught and sang the sun in flight,
And learn, too late, they grieved it on its way,
Do not go gentle into that good night.
Grave men, near death, who see with blinding sight
Blind eyes could blaze like meteors and be gay,
Rage, rage against the dying of the light.
And you, my father, there on the sad height,
Curse, bless me now with your fierce tears, I pray.
Do not go gentle into that good night.
Rage, rage against the dying of the light.
A rapariga presente nesta fotografia está morta. Se olharmos mais atentamente, conseguimos distinguir uma base atrás dos seus pés, a partir daí, um suporte com grampos na cintura e no pescoço, sustentam o cadáver. A roupa estará desapertada na parte de trás. Os braços estão sustentados por arames a fim de se manterem no lugar - note-se a posição das mãos.As pupilas estão pintadas sobre as pálpebras fechadas.
As origens das fotografias memento mori confundem-se com a origem da própria fotografia. No século XIX, os retratos post-mortem faziam parte do luto pela perda de um ente querido, especialmente de uma criança ou um bebé. Esta prática era transversal a toda a sociedade e com a invenção do daguerreótipo, em 1839, ter uma recordação fotográfica do falecido tornou-se mais rápido e barato do que mandar pintar um retrato.
Estas fotografias, mais do que confrontarem os vivos com a inevitabilidade da morte, constituíam uma recordação, já que, não raras as vezes, eram a única imagem que a família tinha daquele que partira desta vida. Geralmente, o morto era arranjado de maneira a parecer ainda vivo, ou num sono pacífico e sereno, livre de todo o sofrimento terreno. Numa fase mais tardia, as fotografias post-mortem já incluíam o corpo no caixão, não havendo esforço para simular uma pose "viva".
Na sociedade actual, esta prática é considerada por muitos como grotesca, vulgar e sensacionalista, ou seja, tabu, em nítido contraste com a sensibilidade dos que, no passado, assim prestavam homenagem aos entes queridos. Esta mudança cultural revela-nos um maior desconforto social com a morte.
“But this is human life: the war, the deeds,
The disappointment, the anxiety,
Imagination’s struggles, far and nigh,
All human; bearing in themselves this good,
That they are still the air, the subtle food,
To make us feel existence, and to shew
How quiet death is."
Eis que para ti não floriram as rosas.
Crisálida no tempo, a tua vida
perfumou-se de sombras e de silêncio.
Com suas crinas verdes, seus
frutos ácidos, com suas
esporas de vento, a primavera
cobriu de borboletas o teu corpo,
e no teu sangue, pálidas,
as espigas da morte amadureceram.
Relógio! Deus sinistro, hediondo, impassível,
Que nos aponta o dedo e nos diz: "Lembra-te!
Em breve, as setas da Dor te cravejarão
O coração cheio de pavor, como num alvo.
O diáfano Prazer fugirá p’ra longe
Como uma sílfide p’ro fundo do bastidor;
Cada instante devora um pedaço da alegria
Destinada ao inteiro trajecto dum homem.
Três mil seiscentas vezes por hora, o Segundo
Murmura: Lembra-te! Rápido, sua voz
De insecto, Agora diz: Sou Antes, e chupei
A tua vida com a minha tromba abjecta!
Remember! Recorda, perdulário! Esto memor!
(Minha garganta de metal é poliglota.)
Os minutos, ó amável mortal, são gangas
Não descartáveis sem lhes extrair o ouro!
Lembra-te! Que o tempo é um jogador ávido
Que ganha, amiúde!, sem batota, é a lei.
O dia mingua; a noite aumenta; lembra-te!
A boca tem sempre sede; a clepsidra vaza…
Breve soará a hora em que o Divino Acaso,
A augusta Virtude, tua esposa ainda virgem,
Onde até o Remorso (oh,! derradeiro refúgio!)
Tudo te dirá: Morre, velho frouxo! é tarde!”
Em poltronas puídas, as cortesãs velhas,
Lívidas, pintadas, olhar terno e fatal,
Seduzindo e fazendo de suas orelhas
Cair um tilintar de pedras e metal;
Em redor do jogo, rostos encarquilhados,
Os lábios sem cor, as maxilas sem um dente,
Por febre infernal, os dedos congestionados,
Palpando a bolsa vazia ou o seio fremente;
Sob os sujos tectos uma fila de lustres
E de lamparinas, com a luz a projectar
Sobre as frontes medonhas de poetas ilustres
Que ali seus suores sangrentos vêm esbanjar;
Eis o negro cenário que em sonho nocturno
Vi desenrolar-se sob meu olhar cioso.
Eu próprio, num canto do antro taciturno,
Me vi pensativo, frio, mudo, invejoso,
Invejando a paixão dessa gente obstinada,
Dessas velhas putas a fúnebre destreza,
Todos galhardamente dando-me a chapada,
Quer do seu orgulho, quer da sua beleza!
E meu coração assustou-se de invejar
Gente correndo p'ró abismo, alucinada,
E que, ébria do seu sangue, prefere cortejar,
Em suma, a dor à morte e o inferno ao nada!