sábado, 23 de novembro de 2013

Danças Palacianas

domingo, 20 de outubro de 2013

As pessoas instantâneas
























Quando a morte cai sobre as pessoas
é porque tem as asas cansadas
de dar voltas ao mundo.

Escolhe, hesitante, um dos seus cantores.
Escolhe quem, matinalmente, se cumprimenta.

A morte um dia esquece e desce
sobre os mesmos reverentes.

Esqueceu tudo o que dissera.
Ou fingiu que esqueceu tudo.

Alguém parou misteriosamente de falar.

E o silêncio quer dizer: “Acabou tudo.”
Quer dizer: “venham comigo até aquelas grutas!”

Agora finjam que estão velhos.
E que ninguém está nada triste.

Olhem para as vossas pernas,
não há pernas!

Nem mãos,
excepto para tocar em coisas indescritíveis.

As crianças que morriam.

Vou viver para a neve com os meus filhos
mergulhar nos rios soturnos e profundos
em segundos.

Por entre as algas e os peixes que prendiam
os braços das crianças que agarravam
os polvos misteriosos que ensinavam
a nadar os que mereciam.
Se a mim viesse algum dos mortos que ensinasse
a morrer a quem vivesse
a nadar a quem andasse
a dormir a quem falasse

Sem parar.

Imitaria a vida que vivesse
esse monstro que ensinasse

Que morresse.

Que matasse.

Sem matar.


António Ladeira

sábado, 28 de setembro de 2013

Se corre devagar o tempo...

Se corre devagar o tempo, e o tempo
não corre, em que relógio contarei
os segundos que se demoram quando as
horas se precipitam, ou o amanhã

que nunca mais chega neste hoje
que já passou? Mas o tempo só o é
quando o perdemos; e ao ver que
é tarde, não se volta atrás, nem

as voltas que o tempo dá o voltam
a fazer andar. Por isso é que o tempo
nos dá tempo para o ter, se ainda

houver tempo; e se tivermos de o perder,
nenhum tempo contará o tempo que se
gastou para saber o que se perdeu, ou ganhou.


Nuno Júdice


sábado, 31 de agosto de 2013

Uns, com os olhos postos passado...

Uns, com os olhos postos no passado,
Vêem o que não vêem; outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, vêem
O que não pode ver-se.

Por que tão longe ir pôr o que está perto-
A segurança nossa? Este é o dia,
Esta é a hora, este o momento, isto
É quem somos, e é tudo.

Perene flui a interminável hora
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto
Em que vivemos, morreremos. Colhe
O dia, porque és ele.


Odes de Ricardo Reis, Fernando Pessoa

sábado, 13 de julho de 2013

In The Green Wild

quarta-feira, 3 de julho de 2013

Atrás dos Tempos Outros Tempos Vêm...

Ilustração da Divina Comédia, Códice Urbinate Latino



















Atrás dos Tempos Outros Tempos Vêm by Fausto on Grooveshark

sábado, 25 de maio de 2013

Sombra...

Fan-Ho, Sombra que se aproxima, 1954























Murmúrio de água na clepsidra gotejante,
Lentas gotas de som no relógio da torre,
Fio de areia na ampulheta vigilante,
Leve sombra azulando a pedra do quadrante,
Assim se escoa a hora, assim se vive e morre...

Homem, que fazes tu?
Para quê tanta lida,
Tão doidas ambições, tanto ódio e tanta ameaça?
Procuremos somente a beleza que a vida
É um punhado infantil de areia ressequida,
Um som de água ou de bronze e uma sombra que passa...


Eugénio de Castro (1867-1944)

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Sem causa...


Sem causa a Infância ri, sem causa chora:
Incauta se despenha a mocidade;
Sacode o jugo, e nela a liberdade,
A caça, o jogo, o amor, tudo a namora.

Das honras o varão se condecora;
Tudo é nele ilusão, tudo vaidade:
Junta Tesouros a avarenta idade;
Diz mal do nosso, e ao tempo andando adora.

Tormento é toda a vida, é toda enganos:
Quando uns afectos vence a novos corre,
E tarde reconhece os próprios danos:

Porque enfim se a prudência nos socorre,
Ditada na lição de longos anos,
Quando se sabe, então é que se morre.


Paulino António Cabral, Abade de Jazente (1719-1789)

Frank Scherschel, 1946

sábado, 30 de março de 2013

Paixão

sexta-feira, 22 de março de 2013

Alegoria

V. Quem chama dentro em mi? - T. O tempo ousado.
V. Entraste sem licença? - T. Tenho-a há muito.
V. Que me queres? - T. Que me ouças. - V. Já te escuto.
T. Prometes de me crer? - V. Fala avisado.

T. Errada vás. - V. Também tu vás errado.
T. Essa é condição minha. - V. Esse é meu fruto.
T. Tu és mulher descuidada. - V. És velho astuto.
T. Erro sem dano meu. - V. Assás tens dado.

T. Ai, vida como passas? - V. Perseguida.
T. De quem? - V. De ti. - T. O Tempo o gosto nega.
V. O tempo é ar. - T. A Vida é passatempo.

V. Tu já nem Tempo és. - T. Nem tu és já Vida.
V. Vai para louco. - T. Vai-te para cega.
- Vedes como se vão a Vida e o Tempo?


D. Francisco Manuel de Melo (1608-1666)

Edward Steichen, 1925

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Prelúdio de uma Primavera Triste

O sol é grande, caem co' a calma as aves,
do tempo em tal sazão, que sói ser fria;
esta água que d' alto cai acordar-m'-ia
do sono não, mas de cuidados graves.

Ó cousas, todas vãs, todas mudaves,
qual é tal coração qu' em vós confia?
Passam os tempos, vai dia trás dia,
incertos muito mais que ao vento as naves.

Eu vira já aqui sombras, vira flores,
vi tantas águas, vi tanta verdura,
as aves todas cantavam d' amores.

Tudo é seco e mudo; e, de mestura,
também mudando-m' eu fiz doutras cores:
e tudo o mais renova, isto é sem cura!


Sá de Miranda

Prelúdio de uma Primavera Triste - Margaret Mather, de Edward Weston, 1920

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O vazio que sentes...

Stefan Okolowicz, The last happening, 1970

O vazio que sentes, cada vez mais,
é o dos traidores.
Também os monumentos, por dentro, estão vazios,
com as entranhas cheias de óxido e morte:
escuros e apodrecidos pela história,
é tão sinistro o seu interior
como arrogante o gesto que o personagem
traça no ar.
Conforme os amigos nos vão traindo
 - e a morte é também uma traição –
assim nos vamos convertendo em monumentos.
Por fora fica um resto de eloquência,
sobretudo ao falar com alguém jovem,
mas a voz ressoa no vazio,
perdida entre os ferros de uma trama oculta
que se desfolha em leves capas de óxido.


Joan Margarit (trad. de Albino Martins)

quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Fantasia

Se meu desejo só é sempre ver-vos,
que causará, senhora, qu' em vos vendo
assi me encolho logo, e arrependo,
que folgaria então poder esquecer-vos?

Se minha glória só é sempre ter-vos
no pensamento meu, porque em querendo
cuidar em vós, se vai entristecendo,
nem ousa meu espírito em si deter-vos?

Se por vós só a vida estimo, e quero,
como por vós a morte só desejo?
Quem achará em tais contrários meio?

Não sei entender o que em mim mesmo vejo.
Mas que tudo é amor entendo e creio,
o no qu' entendo e creio, nisso espero.

António Ferreira

  Fantasy in F minor, D. 940 (Op.103) for piano duet by Maria JOAO on Grooveshark

domingo, 20 de janeiro de 2013

Life is a Killer

Só são tuas - na verdade - a memória e a morte,
a memória que apaga e desfigura
e a sombra da morte que aguarda.
Só lembranças fantasmais e o nada
repartem entre si tua herança sem destino.
Depois de contratos sórdidos, mentiras,
de gestos inoportunos e palavras
- irreais palavras ilusórias -,
só um testamento de cinza
que o vento move, espalha e desordena.

Juan Luis Panero (n.1942)
Tradução: José Bento

William Burroughs



sábado, 19 de janeiro de 2013

O Estudante Empírico

Eu, estudante empírico
Fecho o livro contemplo
Eis o globo, o planisfério terrestre,
O planisfério celeste,
O redondo horizonte, a ilusão dos firmamentos.
E a nossa existência
Eis o compasso, o esquadro, a balança, a pirâmide,
o cone, o cilindro, o cubo, o peso, a forma,
a proporção, as equivalências.
E o nosso itinerário.
Saem das suas caixas os mistérios
Desenrola-se o mapa dos ossos com esses nomes;
O sangue desenha sua floresta-azul;
Cada órgão cumpre um trabalho enigmático:
Estamos repletos de esfinges certeiras.
E o nosso corpo.
E os dinossauros são como carros de triunfo, reduzidos à armação;
e no olho profundo do microscópio a célula se anuncia.
E o nosso destino
O professor escreve no quadro o Alfa e o Ómega.
A luz de Sírius ainda lança escadas em contínua cascata.
E lentamente subo e fecho os olhos
e sonho saber o que não se sabe
simplesmente acordado.
Grande aula, a do silêncio.

Traça a reta e a curva, a quebrada e a sinuosa.
Tudo é preciso. De tudo viverás.
Cuida com exatidão da perpendicular e das paralelas perfeitas.
Com apurado rigor.
Sem esquadro, sem nível, sem fio de prumo, traçarás perspectivas,
Projetarás estruturas.
Número, ritmo, distância, dimensão
Tens os teus olhos, o teu pulso, a tua memória.
Construirás os labirintos impermanentes que sucessivamente habitarás.
Todos os dias estarás refazendo o teu desenho.
Não te fatigues logo. Tens trabalho para toda a vida.
E nem para o teu sepulcro terás a medida certa.
Somos sempre um pouco menos do que pensávamos.
Raramente, um pouco mais.

“Até quando terás, minha alma, esta doçura, este dom de sofrer, este poder de amar, a força de estar sempre – insegura – segura como a flecha que segue a trajetória obscura, fiel ao seu movimento, exata em seu lugar...?”


Cecília Meireles, "Poesia Completa" – vol. 4

Cristina Garcia Rodero

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Tão cedo passa tudo quanto passa!



                                               
Tão cedo passa tudo quanto passa!
Morre tão jovem ante os deuses quanto
           Morre! Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
           E cala. O mais é nada.

 3-11-1923

 Ricardo Reis

Marcel Marceau,"Juventude, Maturidade, Velhice e Morte", 1958, fotografia de Henri Dauman

sábado, 5 de janeiro de 2013

Fade To Grey

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Goddess Eyes

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