Uns, com os olhos postos no passado,
Vêem o que não vêem; outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, vêem
O que não pode ver-se.
Por que tão longe ir pôr o que está perto-
A segurança nossa? Este é o dia,
Esta é a hora, este o momento, isto
É quem somos, e é tudo.
Perene flui a interminável hora
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto
Em que vivemos, morreremos. Colhe
O dia, porque és ele.
Odes de Ricardo Reis, Fernando Pessoa
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sábado, 31 de agosto de 2013
segunda-feira, 7 de janeiro de 2013
Tão cedo passa tudo quanto passa!
Tão cedo passa tudo quanto passa!
Morre tão jovem ante os deuses quanto
Morre! Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
E cala. O mais é nada.
3-11-1923
Gloriae Mundi
Alegorias da Vida,
Fernando Pessoa,
Marcel Marceau,
Poesia
quarta-feira, 4 de julho de 2012
Perfeição
Vejo a Perfeição em sonhos ardentes,
Beleza divina aos sentidos ligada,
Cantando ao ouvido em voz olvidada
Que do peito irrompe em raios candentes
Que não posso prender. Seu cabelo vem
P'lo peito inocente onde, confundidos,
O ideal e o real são tecidos
E algo de alegre que ao céu fica bem.
Então chega o dia e tudo passou;
A mim regresso em dorido sentir,
Qual marinheiro que o naufrágio acordou
Do sonho de um campo em dia luminoso:
Ergue a cabeça e estremece ao ouvir
O rumor da descida ao abismo penoso.
Alexander Search, in "Poesia"
Beleza divina aos sentidos ligada,
Cantando ao ouvido em voz olvidada
Que do peito irrompe em raios candentes
Que não posso prender. Seu cabelo vem
P'lo peito inocente onde, confundidos,
O ideal e o real são tecidos
E algo de alegre que ao céu fica bem.
Então chega o dia e tudo passou;
A mim regresso em dorido sentir,
Qual marinheiro que o naufrágio acordou
Do sonho de um campo em dia luminoso:
Ergue a cabeça e estremece ao ouvir
O rumor da descida ao abismo penoso.
Alexander Search, in "Poesia"
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Sheila Metzner |
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Sheila Metzner
sábado, 16 de junho de 2012
Vanitas
I am dead, but it's not so bad. I've learned to live with it.
Isaac Marion, "Warm Bodies"
Um dia mais passou e ao passar
Que pensei ou li, que foi criado?
Nada! Outro dia passou desperdiçado!
Cada hora já morta ao despontar!
Nada fiz. O tempo me fugiu
E à Beleza nem uma estátua ergui!
Na mente firme nem credo ou sonho vi
E a alma inútil em vão se consumiu.
Então me caberá sempre ficar
Qual grão de areia na praia pousado,
Coisa sujeita ao vento, entregue ao mar?
Ah, esse algo a sofrer e a desejar,
Inda menos que um ser inanimado
Sempre aquém do que podia alcançar!
Alexander Search, in "Poesia"
Isaac Marion, "Warm Bodies"
![]() |
William Strang (1859-1921) - série "Doings of Death" 1901 |
Um dia mais passou e ao passar
Que pensei ou li, que foi criado?
Nada! Outro dia passou desperdiçado!
Cada hora já morta ao despontar!
Nada fiz. O tempo me fugiu
E à Beleza nem uma estátua ergui!
Na mente firme nem credo ou sonho vi
E a alma inútil em vão se consumiu.
Então me caberá sempre ficar
Qual grão de areia na praia pousado,
Coisa sujeita ao vento, entregue ao mar?
Ah, esse algo a sofrer e a desejar,
Inda menos que um ser inanimado
Sempre aquém do que podia alcançar!
Alexander Search, in "Poesia"
![]() |
Vanitas, Jeffrey W. Wall, 1999 |
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Poesia,
Vanitas
sexta-feira, 7 de outubro de 2011
Acordar
Tilda Swinton por Simon Annand
(...)
Nada para mim é tão belo como o movimento e as sensações.
A vida é uma grande feira e tudo são barracas e saltimbancos.
Penso nisto, enterneço-me mas não sossego nunca.
(...)
Minha dor é velha
Como um frasco de essência cheio de pó.
Minha dor é inútil
Como uma gaiola numa terra onde não há aves,
E minha dor é silenciosa e triste
Como a parte da praia onde o mar não chega.
Chego às janelas
Dos palácios arruinados
E cismo de dentro para fora
Para me consolar do presente.
Dá-me rosas, rosas,
E lírios também...
Mas por mais rosas e lírios que me dês,
Eu nunca acharei que a vida é bastante.
Faltar-me-á sempre qualquer coisa,
Sobrar-me-á sempre de que desejar,
Como um palco deserto.
(...)
Álvaro de Campos
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Poesia
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
Rainha de Copas
Condessa de Castiglione como Queen of Hearts, de Pierre-Louis Pierson, 1861-63
"E assim sou, fútil e sensível, capaz de impulsos violentos e absorventes, maus e bons, nobres e vis, mas nunca de um sentimento que subsista, nunca de uma emoção que continue, e entre para a substância da alma. Tudo em mim é a tendência para ser a seguir outra coisa; uma impaciência da alma consigo mesma, como com uma criança inoportuna; um desassossego sempre crescente e sempre igual. Tudo me interessa e nada me prende. Atendo a tudo sonhando sempre; fixo os mínimos gestos faciais de com quem falo, recolho as entoações milimétricas dos seus dizeres expressos; mas ao ouvi-lo, não o escuto, estou pensando noutra coisa, e o que menos colhi da conversa foi a noção do que nela se disse, da minha parte ou da parte de com quem falei. Assim, muitas vezes, repito a alguém o que já lhe repeti, pergunto-lhe de novo aquilo a que ele já me respondeu; mas posso descrever, em quatro palavras fotográficas, o semblante muscular com que ele disse o que me não lembra, ou a inclinação de ouvir com os olhos com que recebeu a narrativa que me não recordava ter-lhe feito. Sou dois, e ambos têm a distância – irmãos siameses que não estão pegados."
Fernando Pessoa
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Condessa de Castiglione,
Fernando Pessoa,
La Folia
sábado, 5 de fevereiro de 2011
sábado, 20 de novembro de 2010
Opiário (Parte I)
Opiário de Álvaro de Campos in Humores I, dito por Mário Viegas
Gloriae Mundi
Fernando Pessoa,
Mário Viegas,
Ópio,
Poesia
Opiário (Parte II)
Opiário, de Álvaro de Campos, dito por Mário Viegas
Gloriae Mundi
Fernando Pessoa,
Mário Viegas,
Ópio,
Poesia
terça-feira, 16 de novembro de 2010
Em busca da Beleza
Soam vãos, dolorido epicurista,
Os versos teus, que a minha dor despreza;
Já tive a alma sem descrença presa
Desse teu sonho, que perturba a vista.
Da Perfeição segui em vã conquista,
Mas vi depressa, já sem a alma acesa,
Que a própria idéia em nós dessa beleza
Um infinito de nós mesmos dista.
Nem à nossa alma definir podemos
A Perfeição em cuja estrada a vida,
Achando-a intérmina, a chorar perdemos.
O mar tem fim, o céu talvez o tenha,
Mas não a ânsia da Coisa indefinida
Que o ser indefinida faz tamanha.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
"Morte em Veneza, de Luchino Visconti, 1971
Os versos teus, que a minha dor despreza;
Já tive a alma sem descrença presa
Desse teu sonho, que perturba a vista.
Da Perfeição segui em vã conquista,
Mas vi depressa, já sem a alma acesa,
Que a própria idéia em nós dessa beleza
Um infinito de nós mesmos dista.
Nem à nossa alma definir podemos
A Perfeição em cuja estrada a vida,
Achando-a intérmina, a chorar perdemos.
O mar tem fim, o céu talvez o tenha,
Mas não a ânsia da Coisa indefinida
Que o ser indefinida faz tamanha.
Fernando Pessoa, in "Cancioneiro"
"Morte em Veneza, de Luchino Visconti, 1971
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segunda-feira, 15 de novembro de 2010
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