Mostrar mensagens com a etiqueta D. Francisco Manuel de Melo. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta D. Francisco Manuel de Melo. Mostrar todas as mensagens

sexta-feira, 22 de março de 2013

Alegoria

V. Quem chama dentro em mi? - T. O tempo ousado.
V. Entraste sem licença? - T. Tenho-a há muito.
V. Que me queres? - T. Que me ouças. - V. Já te escuto.
T. Prometes de me crer? - V. Fala avisado.

T. Errada vás. - V. Também tu vás errado.
T. Essa é condição minha. - V. Esse é meu fruto.
T. Tu és mulher descuidada. - V. És velho astuto.
T. Erro sem dano meu. - V. Assás tens dado.

T. Ai, vida como passas? - V. Perseguida.
T. De quem? - V. De ti. - T. O Tempo o gosto nega.
V. O tempo é ar. - T. A Vida é passatempo.

V. Tu já nem Tempo és. - T. Nem tu és já Vida.
V. Vai para louco. - T. Vai-te para cega.
- Vedes como se vão a Vida e o Tempo?


D. Francisco Manuel de Melo (1608-1666)

Edward Steichen, 1925

sábado, 17 de dezembro de 2011

Mundo é comédia

Dez figas para vós, pois com furtado
Consular nome vos chamais Prudência,
Se, fazendo co'o Mundo conferência,
Discursais, revolveis, e eis tudo errado!

Quem vos vir, Apetite, disfarçado,
Digno vos julgará de reverência;
E a vós, Ódio, por homem de consciência,
Vendo-vos tão sesudo e tão pesado.

Dois a dois, três a três e quatro a quatro,
Entram, de flamas tácitas ardendo,
Astutos Paladiões em simples Tróias.

Quem enganas, ó Mundo, em teu teatro?
A mi não, pelo menos, que estou vendo
Dentro do vestuário estas tramóias.

D. Francisco Manuel de Melo, soneto XI de A Tuba de Calíope, in Obras Métricas, tomo II


Baby of Macon, de Peter Greenway, 1993
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...