Sem causa a Infância ri, sem causa chora:
Incauta se despenha a mocidade;
Sacode o jugo, e nela a liberdade,
A caça, o jogo, o amor, tudo a namora.
Das honras o varão se condecora;
Tudo é nele ilusão, tudo vaidade:
Junta Tesouros a avarenta idade;
Diz mal do nosso, e ao tempo andando adora.
Tormento é toda a vida, é toda enganos:
Quando uns afectos vence a novos corre,
E tarde reconhece os próprios danos:
Porque enfim se a prudência nos socorre,
Ditada na lição de longos anos,
Quando se sabe, então é que se morre.
Paulino António Cabral, Abade de Jazente (1719-1789)
Frank Scherschel, 1946 |