segunda-feira, 29 de novembro de 2010

A F., Favorecendo com a boca e desprezando com os olhos

Quando o sol nasce e a sombra principia,
A doce abelha, a borboleta airosa
Procura luz ardente e fresca rosa
Que faz a terra céo e a noite, dia.

Mas quando à flor se entrega, à luz se fia,
Uma fica infeliz outra ditosa;
Pois vive a abelha e morre a mariposa
Na favorável rosa e chama ímpia.

Fílis, abelha sou, sou borboleta,
Que com afecto igual, com igual sorte,
Busco em vós melhor luz, flor mais selecta;

Mas quando a flor é branda, a chama é forte,
Néctar acho na flor, na luz cometa,
A boca me dá vida, os olhos morte.

Jerónimo Baía

Georges de La Tour, Maria Madalena, c. 1625-1650
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...