A doce abelha, a borboleta airosa
Procura luz ardente e fresca rosa
Que faz a terra céo e a noite, dia.
Mas quando à flor se entrega, à luz se fia,
Uma fica infeliz outra ditosa;
Pois vive a abelha e morre a mariposa
Na favorável rosa e chama ímpia.
Fílis, abelha sou, sou borboleta,
Que com afecto igual, com igual sorte,
Busco em vós melhor luz, flor mais selecta;
Mas quando a flor é branda, a chama é forte,
Néctar acho na flor, na luz cometa,
A boca me dá vida, os olhos morte.
Jerónimo Baía
Georges de La Tour, Maria Madalena, c. 1625-1650