A velha, pequenina e encarquilhada, ficou toda contente ao ver a linda criança a quem todos faziam festas, a quem toda a gente queria agradar: aquele serzinho, tão frágil como ela, a pequenina velha, e, também como ela, sem dentes e sem cabelo.
E ela então aproximou-se, procurando desfazer-se em risadinhas e trejeitos agradáveis.
Mas a criança, cheia de susto, estrebuchava sob as carícias da boa senhora decrépita, e enchia a casa toda com os seus guinchos.
Então a boa velhinha retraiu-se para a sua eterna solidão, e ficou a chorar num canto, dizendo consigo: - "Ah! para nós desgraçadas fêmeas idosas, já passou o tempo de agradar, mesmo aos inocentes; metemos medo aos próprios pequeninos a quem temos desejo de amar!"
in O Spleen de Paris, de Charles Baudelaire
Mrs T. Charlton Henry (1965), de Diane Arbus