sexta-feira, 29 de abril de 2011

Quando Ficares Velha

Quando ficares velha, grisalha e sonolenta
E te aqueceres à lareira, pega neste livro
E lê-o devagar, sonha com o olhar meigo
E com as sombras profundas outrora nos teus olhos;

Quantos amaram os teus momentos de feliz encanto
E a tua beleza com amor falso ou autêntico,
Além daquele homem que amou em ti a alma peregrina
E as tristezas que alteravam o teu rosto;

E curvando-te mais sobre a lareira ao rubro
Murmura, um pouco triste, como o Amor se foi
E caminhou sobre as montanhas lá no alto
E escondeu o rosto numa multidão de estrelas.


William Butler Yeats


Delta of Venus Illustrated (1979), de Bob Carlos Clarke

sexta-feira, 22 de abril de 2011

Paixão

Perceval le Gallois é um filme de Eric Rohmer, realizado em 1978. Inspirado no romance do século XII de Chrétien de Troyes Perceval, A História do Graal, o filme narra a ascensão de Perceval a cavaleiro e a sua integração na Távola Redonda.

As personagens movem-se num espaço teatral, com adereços rudimentares e cenários estilizados, e, por vezes, narram os seus próprios pensamentos e acções em vez de os manifestarem. A acompanhá-las está um coro que participa no drama.

O segmento final do filme inclui uma cena da Paixão de Cristo, que não faz parte do poema de Troyes.

quinta-feira, 21 de abril de 2011

A F., agradecendo-lhe umas rosas

Estes mimos da luz, do campo alarde,
Mariposas do Sol, línguas da Aurora,
Sendo alinhos de Abril, troféos de Flora,
São galas na manhã, lutos na tarde.

Sem que do fado insano o Sol as guarde,
Marchita as flores, quando as enamora,
Pois cada rosa que com luzes dora
É borboleta que nas chamas arde.

Fílis, mais do que amante, andais ingrata,
Querendo dos rigores fazer moda,
Embuçando o favor na tirania,

Pois, no caduco ser desta escarlata,
Dais a um amor, que dura a vida toda,
Um galardão que apenas dura um dia.

Francisco de Vasconcelos


Kenneth Frazier (1867 - 1949), Woman with a Rose

Poesia Silenciosa I

Jovem Rapariga com Pavão (1895), de Edmond François Aman-Jean (1858 - 1936)

domingo, 17 de abril de 2011

Arioso


Bach Arioso Cantata 156 - Georg Mertens

sexta-feira, 15 de abril de 2011

Que me falta? A vida me sobeja

Henry Brown Fuller, Illusions

Que me falta? A vida me sobeja,
Obséquios da fortuna não espero,
Nem riquezas, nem gostos eu já quero,
Nem quanto pelo mundo se deseja.

Vive o homem feliz, não tenho inveja,
Se desgraçado, não me desespero,
E em quanto no mundo considero
Sempre indiff'rente estou, seja ou não seja.

De glórias e paixões o peito isento,
Não sinto nem prazer, nem pena intensa,
Que mais tarde ou mais cedo as leva o vento.

Nem disto quero outra recompensa
Que o conservar-me o Ceo o pobre alento,
Pois com elle conservo esta indiff'rença.

Marquesa de Alorna

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Amor e Razão

"To say the truth, reason and love keep little company together nowadays."

William Shakespeare

James Cagney e Anita Louise em A Midsummer Night's Dream (1935) 

terça-feira, 12 de abril de 2011

Palco

All the world's a stage,
And all the men and women merely players:
They have their exits and their entrances;
(...)


William Shakespeare, As You like It



"Le Roi Danse", de Gérard Corbiau
Le Triomphe de l'amour - Prélude de la nuit, de Jean-Baptiste Lully

A uma crueldade formosa

A minha bela ingrata
Cabelo de ouro tem, fronte de prata,
De bronze o coração, de aço o peito;
São os olhos luzentes
(Por quem choro e suspiro,
Desfeito em cinza, em lágrimas desfeito),
Celestial safiro;
Os beiços são rubins, perlas os dentes;
A lustrosa garganta
De mármore polido;
A mão de jaspe, de alabastro a planta.
Que muito, pois, Cupido,
Que tenha tal rigor tanta lindeza,
As feições milagrosas,
Para igualar desdéns a formosuras,
De preciosos metais, pedras preciosas,
E de duros metais, de pedras duras?

Jerónimo Baía

Espelhos de Vénus

A Condessa de Castiglione - 1861-67

Vanity, de Auguste Toulmouche, 1889

Jeune femme au miroir, de Clarence H. White, 1898

Espelho de Vénus, de Edward Burne-Jones

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Ninguém é Deus sobre esta Terra


"Le Roi Danse", de Gérard Corbiau

A Vaidade dos Homens

A vaidade da grandeza parece que é mais subtil, e mais vã do que as outras vaidades, pois introduz o poder, e a autoridade, até no modo de pensar. (...)A vaidade pode enganar a cada um, pelo que respeita a si, mas não pode enganar a todos pelo que respeita a cada um. (...) Creia pois a grandeza o que quiser de si, porque também nós havemos de crer dela o que quisermos.

Reflexões sobre a Vaidade dos Homens, Matias Aires (1705 - 1763)


Le Bourgeois Gentilhomme - Molière

domingo, 3 de abril de 2011

Canção da Sereia

Frederick Leighton, The Fisherman and the Syren, 1856-58

This is the one song everyone
would like to learn: the song
that is irresistible:

the song that forces men
to leap overboard in squadrons
even though they see beached skulls

the song nobody knows
because anyone who had heard it
is dead, and the others can’t remember.
Shall I tell you the secret
and if I do, will you get me
out of this bird suit?
I don’t enjoy it here
squatting on this island
looking picturesque and mythical
with these two feathery maniacs,
I don’t enjoy singing
this trio, fatal and valuable.

I will tell the secret to you,
to you, only to you.
Come closer. This song
is a cry for help: Help me!
Only you, only you can,
you are unique

at last. Alas
it is a boring song
but it works every time.


Margaret Atwood
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