segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

Liebesleid

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Soneto CXXIII

Arnold Boecklin, 1872

Não te gabes ó Tempo de que mudando venho:
Pirâmides ergueste e com maior potência,
mas pra mim nada têm de novo nem de estranho,
de coisa há muito vista são só outra aparência.
Contudo admiramos, em nossas vidas breves,
quanto velho por novo tu já nos tens vendido,
e que se ajuste ao nosso desejo lhe prescreves
mais que o pensarmos nós tê-lo antes conhecido.
Mas não me surpreendem passado nem presente
e a ti e a teus arquivos eu desafio audaz,
mentem os teus registos, o que nós vemos mente
que a tua eterna pressa maior ou menor faz:
  Voto de ser fiel pra sempre faço aqui,
  mau grado a tua foice e apesar de ti.


William Shakespeare
Tradução: Vasco Graça Moura

segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

"Oui, c'est la folie"

sábado, 15 de dezembro de 2012

Pandora

Pandora, de Alma-Tadema, 1881





















Pandora, de William Waterhouse, 1898

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Quando se vir com água o fogo arder

Nadia Alamri



















Quando se vir com água o fogo arder,
Juntar-se ao claro dia a noite escura,
E a terra colocada lá na altura
Em que se vêem os céus prevalecer;

Quando Amor à Razão obedecer,
E em todos for igual uma ventura,
Deixarei de ver tal formosura,
E de amar deixarei depois de a ver.

Porém não sendo vista esta mudança
No mundo, porque, enfim, não pode ver-se,
Ninguém vendar-me queira de querer-vos.

Que basta estar em vós minha esperança,
E o ganhar-se a minha alma ou o perder-se,
Para dos olhos meus nunca perder-vos.


Luís de Camões

sábado, 8 de dezembro de 2012

O tempo presente e o tempo passado

Barbara Parmet, Meeting On The Shore


















O tempo presente e o tempo passado
Estão ambos talvez presentes no tempo futuro
E o tempo futuro contido no tempo passado.
Se todo tempo é eternamente presente
Todo tempo é irredimível.
O que poderia ter sido é uma abstração
Que permanece, perpétua possibilidade,
Num mundo apenas de especulação.
O que poderia ter sido e o que foi
Convergem para um só fim, que é sempre presente.
Ecoam passos na memória
Ao longo das galerias que não percorremos
Em direção à porta que jamais abrimos
Para o roseiral.
Assim ecoam minhas palavras
Em tua lembrança.
Mas com que fim
Perturbam elas a poeira sobre uma taça de pétalas.
Não sei.
Outros ecos
Se aninham no jardim.
Seguiremos?
Depressa, disse o pássaro, procura-os, procura-os
Na curva do caminho.
Pela primeira porta,
Aberta ao nosso mundo primeiro, aceitaremos
A trapaça do tordo?
Em nosso mundo primeiro,
Lá estavam eles, dignificados e invisíveis,
Movendo-se imponderáveis sobre as folhas mortas,
No calor do outono, através do ar vibrante,
E o pássaro cantou, em resposta
À inaudita música oculta na folhagem.
E um radiante olhar impressentido trespassou o espaço,
porque as rosas
Tinham a aparência de flores contempladas.
Lá estavam eles, como nossos hóspedes, acolhidos e acolhedores.
Assim, caminhamos, lado a lado, em solene postura,
Ao longo da alameda deserta, rumo à cerca de buxos,
Para mergulhar os olhos no tanque agora seco.
Seco o tanque, concreto seco, calcinados bordos,
E o tanque inundado pela água da luz solar,
E os lótus se erguiam, docemente, docemente,
A superfície flamejou no coração da luz,
E eles atrás de nós, refletidos no tanque.
Passou então uma nuvem, e o tanque esvaziou.
Vai, disse o pássaro, porque as folhas estão cheias de crianças,
Maliciosamente escondidas, a reprimir o riso.
Vai, vai, vai, disse o pássaro: o género humano
Não pode suportar tanta realidade.
O tempo passado e o tempo futuro,
O que poderia ter sido e o que foi,
Convergem para um só fim, que é sempre presente. . .

T. S. Eliot, "Four Quartets 1: Burnt Norton"

 
Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...