Mais um ano na estrada percorrida
Vem, como astro matinal, que a adora
Molhar de puras lágrimas de aurora
A morna rosa escura e apetecida.
E da flagrante tepidez sonora
No recesso, como ávida ferida
Guardar o plasma múltiplo da vida
Que a faz materna e plácida, e agora
Rosa geral de sonho e plenitude
Transforma em novas rosas de beleza
Em novas rosas de carnal virtude.
Para que o sonho viva de certeza
Para que o tempo da paixão não mude
Para que se una o verbo à natureza.
Vinicius de Moraes
sexta-feira, 28 de setembro de 2012
Soneto da Rosa
Gloriae Mundi
Alegorias da Vida,
Música,
Poesia,
The Balanescu Quartet,
Vinicius de Moraes
segunda-feira, 24 de setembro de 2012
Memento Mori
Fotografia post-mortem da era vitoriana
A rapariga presente nesta fotografia está morta. Se olharmos mais atentamente, conseguimos distinguir uma base atrás dos seus pés, a partir daí, um suporte com grampos na cintura e no pescoço, sustentam o cadáver. A roupa estará desapertada na parte de trás. Os braços estão sustentados por arames a fim de se manterem no lugar - note-se a posição das mãos.As pupilas estão pintadas sobre as pálpebras fechadas.
As origens das fotografias memento mori confundem-se com a origem da própria fotografia. No século XIX, os retratos post-mortem faziam parte do luto pela perda de um ente querido, especialmente de uma criança ou um bebé. Esta prática era transversal a toda a sociedade e com a invenção do daguerreótipo, em 1839, ter uma recordação fotográfica do falecido tornou-se mais rápido e barato do que mandar pintar um retrato.
Estas fotografias, mais do que confrontarem os vivos com a inevitabilidade da morte, constituíam uma recordação, já que, não raras as vezes, eram a única imagem que a família tinha daquele que partira desta vida. Geralmente, o morto era arranjado de maneira a parecer ainda vivo, ou num sono pacífico e sereno, livre de todo o sofrimento terreno. Numa fase mais tardia, as fotografias post-mortem já incluíam o corpo no caixão, não havendo esforço para simular uma pose "viva".
Na sociedade actual, esta prática é considerada por muitos como grotesca, vulgar e sensacionalista, ou seja, tabu, em nítido contraste com a sensibilidade dos que, no passado, assim prestavam homenagem aos entes queridos. Esta mudança cultural revela-nos um maior desconforto social com a morte.
Gloriae Mundi
Alegorias da Morte,
Música
domingo, 23 de setembro de 2012
Femme et Chatte
Elle jouait avec sa chatte;
Et c'était merveille de voir
La main blanche et la blanche patte
S'ébattre dans l'ombre du soir.
Elle cachait - la scélérate!
- Sous ces mitaines de fil noir
Ses meurtriers ongles d'agate,
Coupants et clairs comme un rasoir.
L'autre aussi faisait la sucrée
Et rentrait sa griffe acérée,
Mais le diable n'y perdait rien...
Et dans le boudoir où, sonore,
Tintait son rire aérien,
Brillaient quatre points de phosphore.
Paul Verlaine
MULHER E GATA
Ela brincava com a gata
E era admirável ver as duas,
A branca mão e a branca pata,
Brincando à noite, na penumbra.
Ela escondia - a celerada!
- Sob as mitenes de fio escuro
As assassinas unhas de ágata,
Claras, cortantes, como um gume.
Fingia-se a outra adoçada
E retraía a garra afiada,
Mas o diabo nada perdia...
E no toucador retinia
O som de aéreas gargalhadas
E quatro pontos fosforesciam.
Tradução: Fernando Pinto do Amaral
Et c'était merveille de voir
La main blanche et la blanche patte
S'ébattre dans l'ombre du soir.
Elle cachait - la scélérate!
- Sous ces mitaines de fil noir
Ses meurtriers ongles d'agate,
Coupants et clairs comme un rasoir.
L'autre aussi faisait la sucrée
Et rentrait sa griffe acérée,
Mais le diable n'y perdait rien...
Et dans le boudoir où, sonore,
Tintait son rire aérien,
Brillaient quatre points de phosphore.
Paul Verlaine
Jean Harlow |
MULHER E GATA
Ela brincava com a gata
E era admirável ver as duas,
A branca mão e a branca pata,
Brincando à noite, na penumbra.
Ela escondia - a celerada!
- Sob as mitenes de fio escuro
As assassinas unhas de ágata,
Claras, cortantes, como um gume.
Fingia-se a outra adoçada
E retraía a garra afiada,
Mas o diabo nada perdia...
E no toucador retinia
O som de aéreas gargalhadas
E quatro pontos fosforesciam.
Tradução: Fernando Pinto do Amaral
Gloriae Mundi
Alegorias da Vaidade,
Jean Harlow,
Paul Verlaine,
Poesia
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