Que enleo é este vão da fantasia?
Que tive, que perdi, quem me queria?
Quem me faz guerra, contra quem pelejo?
Foi por encantamento o meu desejo,
E por sombra passou minha alegria,
Mostrou-me Amor dormindo o que não via,
E eu ceguei do que vi, pois já não vejo.
Fez à sua medida o pensamento
Aquela estranha e nova fermosura,
E aquele parecer quasi divino.
Ou imaginação, sombra ou figura,
É certo e verdadeiro meu tormento,
Eu morro do que vi, do que imagino.
Francisco Rodrigues Lobo (c.1574?-1621)