domingo, 5 de junho de 2011

Narciso

Curvei, sobre o regato, o corpo todo...
Porém, mal entrevi o meu retrato,
que foi olhar e as águas do regato
se turbaram, manchadas do meu lodo.

Depois, cavei cá dentro com denodo;
perfumei-me de flores azuis do mato;
e, quando cri expulso o lodo inato,
mais uma vez curvei o meu corpo todo.

E as águas tardaram em toldar...
Mas debruço-me ainda, pois espero
que me hão-de um dia, claras, espelhar.

Tanto faz ver-me belo ou feio, então;
só cristalinas, límpidas, as quero,
prà tua sede antiga, meu Irmão.

Sebastião da Gama, Itinerário Paralelo


Alejandro Cano Bolado
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