A vista incerta
Os ombros langues,
Pierrot aperta
As mãos exangues
De encontro ao peito.
Alguma cousa
O punge ali
Que ele não ousa
Lançar de si,
O pobre doido.
Uma sombria
Rosa escarlata
Em agonia
Faz que lhe bata
O coração...
Sangrenta rosa
Que evoca a louca,
A voluptuosa,
Volúvel boca
De sua amada...
Ah, com que mágoa
Com que desgosto
Dois fios de água
Lavam-lhe o rosto
De faces lívidas!
Da veste branca
À larga túnica
Por fim arranca
A rosa púnica
Em um soluço.
E parecia
Jogando ao chão
A flor sombria,
Que o coração
Ele arrancara!..
Manuel Bandeira
Pierrot le Fou, de Jean-Luc Godard