quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Espelho do Amor

Ó meu espelho d'aço! Muito amigo
Que me diz as verdades francamente,
me vê doente, quando estou doente,
E sã, se sã me mostro ao seu postigo;

Voz que repete aquilo que eu lhe digo,
E muda, quando mudo de repente,
Olhar que me desenha claramente,
Do meu sentir o mais fiel abrigo:

Mas tu, preferido Amor! O espelho d'alma
Que reflecte a minha pura e calma -
Embaciou-te a luz d'outra paixão:

E hoje, se o meu olhar no teu confundo,
vejo a íris negra d'esse mar profundo
E n'ela os traços meus procuro em vão!

Soneto de 1916, assinado «Azul» in Espólio de Columbano Bordalo Pinheiro


Love's Mirror, Dante Gabriel Rossetti
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