Que me diz as verdades francamente,
me vê doente, quando estou doente,
E sã, se sã me mostro ao seu postigo;
Voz que repete aquilo que eu lhe digo,
E muda, quando mudo de repente,
Olhar que me desenha claramente,
Do meu sentir o mais fiel abrigo:
Mas tu, preferido Amor! O espelho d'alma
Que reflecte a minha pura e calma -
Embaciou-te a luz d'outra paixão:
E hoje, se o meu olhar no teu confundo,
vejo a íris negra d'esse mar profundo
E n'ela os traços meus procuro em vão!
Soneto de 1916, assinado «Azul» in Espólio de Columbano Bordalo Pinheiro
Love's Mirror, Dante Gabriel Rossetti