domingo, 4 de dezembro de 2011

Flesh for Eve

Irina Ionesco

Em poltronas puídas, as cortesãs velhas,
Lívidas, pintadas, olhar terno e fatal,
Seduzindo e fazendo de suas orelhas
Cair um tilintar de pedras e metal;

Em redor do jogo, rostos encarquilhados,
Os lábios sem cor, as maxilas sem um dente,
Por febre infernal, os dedos congestionados,
Palpando a bolsa vazia ou o seio fremente;

Sob os sujos tectos uma fila de lustres
E de lamparinas, com a luz a projectar
Sobre as frontes medonhas de poetas ilustres
Que ali seus suores sangrentos vêm esbanjar;

Eis o negro cenário que em sonho nocturno
Vi desenrolar-se sob meu olhar cioso.
Eu próprio, num canto do antro taciturno,
Me vi pensativo, frio, mudo, invejoso,

Invejando a paixão dessa gente obstinada,
Dessas velhas putas a fúnebre destreza,
Todos galhardamente dando-me a chapada,
Quer do seu orgulho, quer da sua beleza!

E meu coração assustou-se de invejar
Gente correndo p'ró abismo, alucinada,
E que, ébria do seu sangue, prefere cortejar,
Em suma, a dor à morte e o inferno ao nada!


Charles Baudelaire
(tradução de jesimões)


quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Espelhos VIII

Tiziano (c.1488-90-1576)

Santiago Rusinol (1894)

Rubens, Vénus ao espelho (1614)

Richard Edward Miller (1920)

James Whistler (1834-1903)

John Byam Liston Shaw, Jezebel (1896)

Guy Rose (1867)

Wilhelm Gallhof (1918)

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Fiei-me nas promessas...

Fiei-me nas promessas que afectavas
Nas lágrimas fingidas que vertias,
Nas ternas expressões que me fazias,
Nessas mãos que as minhas apertavas.

Talvez, cruel, que, quando as animavas,
Que eram doutrem na ideia fingirias,
E que os olhos banhados mostrarias
De pranto, que por outrem derramavas.

Mas eu sou tal, ingrata, que, inda vendo
Os meus tristes amores mal seguros,
De amar-te nunca, nunca me arrependo.

Ainda adoro os olhos teus perjuros,
Ainda amo a quem me mata, ainda acendo
Em aras falsas, holocaustos puros.

Nicolau Tolentino




"Eye to eye stand winners and losers
Hurt by envy, cut by greed
Face to face with their own disillusion
The scars of old romances still on their cheeks
And when blow by blow the passion dies sweet little death
Just have been lies the memories of gone by time
Would still recall the lie (...)"

Propaganda - Duel

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Concerto para violino



Anne-Sophie Mutter, violino
London Symphony Orchestra

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Soneto moral

Silence, John Henry Fuseli, 1799-1801

Horas breves do meu contentamento
Nunca me pareceu, quando vos tinha,
Que vos visse mudadas tão asinha
Em tão compridos anos de tormento.

Os meus castelos, que fundei no vento,
O vento mos levou, que mos sostinha,
Do mal, que me ficou, a culpa é minha,
Pois sobre cousas vãs fiz fundamento.

Amor com falsas mostras aparece,
Tudo possível faz, tudo assegura,
E logo no melhor desaparece.

Oh dano grande, oh grande desventura!,
Que, por pequeno bem, que em fim falece,
Se aventura im bem que sempre dura!

Infante D.Luís (filho de D.Manuel I)



Artur Rubinstein - Liebestraum nº3 Liszt - 1954
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