Death and the Maiden, Pierre Puvis de Chavannes, 1872
O mito de Perséfone, raptada por Hades, deus do Inferno, prefigura já o conflito entre Eros e Thanatos. A jovem deusa colhia flores despreocupadamente quando reparou num belo narciso e o apanhou. Nesse momento o chão abriu-se e Hades emergiu do submundo raptando-a.
O rapto de Perséfone, de Bernini
Esta velha visão ganhou novos contornos no final do século XV e tornou-se no tema da Morte e da Donzela. Em muitas das Danças da Morte medievais já se assistia à representação da Morte na companhia de uma bela dama ou donzela, mas sem qualquer carga erótica. No entanto, no tema da Morte e da Donzela, algo novo surgiu - um elo sinistro entre sexualidade e morte (eros / thanatos).
Fresco de Berna
Neste tipo de iconografia, a jovem deixa de estar envolvida numa dança para se encontrar numa relação sensual, que se tornará cada vez mais erótica. Ao contrário da dança da morte, não encontramos versos explicativos nas representações da Morte e da Donzela. Assim a sua função didáctica perde um pouco da sua importância a favor de uma crescente sensualidade (não esqueçamos que o tema, muitas vezes, servia de pretexto para mostrar a nudez feminina). No entanto, o objectivo moralista permanecia: a vida é efémera assim como a beleza de uma mulher. O seu corpo, o seu rosto, os seus cabelos, os seus seios alimentarão, um dia, os vermes da terra.
Esta obra de Niklaus Manuel Deutsch, de 1517, mostra bem a transição entre a dança da morte e o tema da morte e da donzela. A Morte é aqui um cadáver em decomposição que rudemente agarra a rapariga, beija-a e coloca a mão no seu sexo. A jovem não parece resistir a este amante aterrador.
Neste quadro de Hans Baldung Grien, a Morte agarra a donzela pelos cabelos e aponta na direcção da sepultura cavada no chão. A rapariga não resiste, os seus olhos estão vermelhos e lágrimas correm-lhe pela face; compreende que é chegado o seu fim. Grien pintou vários quadros semelhantes - vejamos mais três:
A próxima gravura (de Hans Sebald Beham - 1548), mostra um esqueleto alado segurando uma ampulheta junto de uma jovem que dorme numa posição muito sugestiva e estranhamente descontraída....
Nesta gravura de Edward Munch, datada de 1894, a Morte é esqueleto mas não é uma figura agressiva. Quebrando a tradição, há aqui a sugestão da vitória do Amor sobre a Morte, uma vez que mulher, ao invés de ser dominada, abraça a Morte apaixonadamente.
Ainda com Munch, em O Beijo da Morte (1899) vemos a continuação da mesma linha de pensamento. O longo cabelo da jovem cobre o pescoço e os ombros da Morte, que ternamente lhe beija a face.No entanto, ela permanece indiferente e olha para longe. Mais uma vez, a donzela parece dominar.
Este quadro de Marianne Stokes, datado de 1900, apresenta uma diferença. A Morte não é um cadáver nem um esqueleto mas sim uma mulher alada, trajada de negro. A jovem encontra-se na cama, desperta, e puxa as cobertas para si, num gesto de modéstia. Não há nenhum contacto físico. A Morte faz um gesto apaziguador com a mão esquerda. Dir-se-ia que aqui não há nenhum aviso contra a vaidade. Apenas é evocada, como que num sonho, a morte súbita de uma rapariga durante o seu sono.
Neste quadro, pintado por Egon Schiele em 1915, a Morte é representada por um homem. Numa paisagem surreal, uma rapariga abraça-o. Há um estranho contraste entre os seus braços descarnados e as suas pernas fortes e musculadas. A pintura sugere mais melancolia do que medo. À semelhança de Stokes, Schiele afasta-se da alegoria tradicional para representar a despedida de um casal.