sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

La Castiglione


Virginia Elisabetta Luisa Carlotta Antonietta Teresa Maria Oldoïni (1837 – 1899), mais conhecida como La Castiglione, foi uma condessa italiana que ganhou notoriedade como amante do Imperador Napoleão III. Mas Virginia Oldoini foi também uma mulher singular para a sua época ao ter um papel significativo nos primórdios da história da fotografia.


Entre 1856 e 1895, a Condessa de Castiglione fez-se fotografar mais de 400 vezes pelo estúdio Mayer & Pierson, em Paris. E não se limitava a sentar-se quieta e deixar tudo nas mãos do fotógrafo, Pierre-Louis Pierson; era ela que decidia a pose e o cenário…


Entre as suas poses para a câmara contam-se uma freira, Medeia com uma faca, Beatriz, Judite a entrar na tenda de Holofernes, uma donzela afogada, Lady Macbeth sonâmbula, Ana Bolena, uma cortesã exibindo as suas pernas ou ainda um cadáver no caixão.


 

Antes de Claude Cahun  ou Cindy Sherman, La Castiglione já fazia ficção fotográfica com a sua própria imagem, e muito antes do Surrealismo, já Virginia criava identidades alternativas e usava espelhos para fragmentar e multiplicar imagens. Era obcecada pelos olhos. Numa fotografia, intitulada ''Os Olhos'' ela segura um pequeno espelho afastando-o do seu rosto de modo a aparecerem só os seus olhos.


Nascida no seio de uma família aristocrata de Florença, casou aos 17 anos com o Conde de Castiglione. Foi um enlace infeliz; Virginia traiu-o e arruinou-o financeiramente. Separados em 1857, a Condessa viveu a maior parte da sua vida com o seu filho Giorgio, em Paris, e seduzindo homens ilustres.

A sua vaidade era tão ou ainda mais famosa quanto a beleza. Enviava álbuns dos seus retratos a amigos e admiradores. Não dirigia a palavra às mulheres e vivia completamente fascinada por si própria, segura de que os outros também assim viviam. Os seus cúmplices predilectos: os espelhos.


É difícil perceber quando é que o narcisismo degenerou em loucura mas quando o marido tentou tirar-lhe o filho, a Condessa usou a sua fotografia como uma espécie de vudu: enviou-lhe um retrato seu (intitulado Vingança) enquanto Medeia, com um olhar assassino e empunhando uma faca a escorrer sangue; Giorgio ficou com a mãe. À medida que envelhecia e perdia a beleza, começou a fotografar partes do corpo isoladamente. A uma fotografia indelicada do seu pé deu o nome de “Amputação do Gruyere”. O seu mais bizarro retrato é aquele em que o seu corpo está num caixão, parecendo a fotografia ter sido tirada próximo da sua cabeça.


Virginia teve como projecto de vida um registo fotográfico de experiências fora de si, melhor dizendo, da sua identidade e, por fim, do seu próprio corpo. La Castiglione parecia obcecada em saber como os outros a veriam. Nos últimos anos da sua vida, a Condessa viveu reclusa no seu apartamento, decorado a preto fúnebre, de reposteiros cerrados, sem espelhos, só saindo à noite, envolta em véus. Morreu aos 62 anos de idade.

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