terça-feira, 29 de março de 2011

Flora


" Vós Flora me chamais; meu nome é Cloris,
transformou-m'o a seu uso a Lácia língua.

Cloris sou pois; fui ninfa nesses campos,
onde has ouvido, que em remotas eras
se lograva aurea vida entre os humanos.

Se eu era bella... não sei; outrem que o diga;
sei que de minha mãe foi genro um nume.


Floria a primavera. Eu, descuidosa,
girava a espairecer-me; a espairecer-se
girava ao longe Zéfiro. Avistou-me;
avistei-o, elle... fogo! eu... toda sustos!
eu... a esquivar-me; ... o trefego a seguir-me.
Corro; voa; era aligero; colheu-me;...
reluto; a força d'elle excede à minha.



Maravilha-te acaso audácia tanta?
Boreas, o fero irmão lhe abriu o exemplo;
Boreas, que de Ericteu forçando os lares,
lhe arrebatará a filha. O meu, contudo,
se uma injúria me fez, soube expiá-la;
que em laços de consórcio agora unidos
affeição mútua em doce paz lográmos."



Texto: Os Fastos, vol. 3, de Ovídio (trad. de António Feliciano Castilho)
Imagens: Flora, de John William Waterhouse, 1898
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