quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O vazio que sentes...

Stefan Okolowicz, The last happening, 1970

O vazio que sentes, cada vez mais,
é o dos traidores.
Também os monumentos, por dentro, estão vazios,
com as entranhas cheias de óxido e morte:
escuros e apodrecidos pela história,
é tão sinistro o seu interior
como arrogante o gesto que o personagem
traça no ar.
Conforme os amigos nos vão traindo
 - e a morte é também uma traição –
assim nos vamos convertendo em monumentos.
Por fora fica um resto de eloquência,
sobretudo ao falar com alguém jovem,
mas a voz ressoa no vazio,
perdida entre os ferros de uma trama oculta
que se desfolha em leves capas de óxido.


Joan Margarit (trad. de Albino Martins)