quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Fantasia

Se meu desejo só é sempre ver-vos,
que causará, senhora, qu' em vos vendo
assi me encolho logo, e arrependo,
que folgaria então poder esquecer-vos?

Se minha glória só é sempre ter-vos
no pensamento meu, porque em querendo
cuidar em vós, se vai entristecendo,
nem ousa meu espírito em si deter-vos?

Se por vós só a vida estimo, e quero,
como por vós a morte só desejo?
Quem achará em tais contrários meio?

Não sei entender o que em mim mesmo vejo.
Mas que tudo é amor entendo e creio,
o no qu' entendo e creio, nisso espero.

António Ferreira

  Fantasy in F minor, D. 940 (Op.103) for piano duet by Maria JOAO on Grooveshark

domingo, 20 de janeiro de 2013

Life is a Killer

Só são tuas - na verdade - a memória e a morte,
a memória que apaga e desfigura
e a sombra da morte que aguarda.
Só lembranças fantasmais e o nada
repartem entre si tua herança sem destino.
Depois de contratos sórdidos, mentiras,
de gestos inoportunos e palavras
- irreais palavras ilusórias -,
só um testamento de cinza
que o vento move, espalha e desordena.

Juan Luis Panero (n.1942)
Tradução: José Bento

William Burroughs



sábado, 19 de janeiro de 2013

O Estudante Empírico

Eu, estudante empírico
Fecho o livro contemplo
Eis o globo, o planisfério terrestre,
O planisfério celeste,
O redondo horizonte, a ilusão dos firmamentos.
E a nossa existência
Eis o compasso, o esquadro, a balança, a pirâmide,
o cone, o cilindro, o cubo, o peso, a forma,
a proporção, as equivalências.
E o nosso itinerário.
Saem das suas caixas os mistérios
Desenrola-se o mapa dos ossos com esses nomes;
O sangue desenha sua floresta-azul;
Cada órgão cumpre um trabalho enigmático:
Estamos repletos de esfinges certeiras.
E o nosso corpo.
E os dinossauros são como carros de triunfo, reduzidos à armação;
e no olho profundo do microscópio a célula se anuncia.
E o nosso destino
O professor escreve no quadro o Alfa e o Ómega.
A luz de Sírius ainda lança escadas em contínua cascata.
E lentamente subo e fecho os olhos
e sonho saber o que não se sabe
simplesmente acordado.
Grande aula, a do silêncio.

Traça a reta e a curva, a quebrada e a sinuosa.
Tudo é preciso. De tudo viverás.
Cuida com exatidão da perpendicular e das paralelas perfeitas.
Com apurado rigor.
Sem esquadro, sem nível, sem fio de prumo, traçarás perspectivas,
Projetarás estruturas.
Número, ritmo, distância, dimensão
Tens os teus olhos, o teu pulso, a tua memória.
Construirás os labirintos impermanentes que sucessivamente habitarás.
Todos os dias estarás refazendo o teu desenho.
Não te fatigues logo. Tens trabalho para toda a vida.
E nem para o teu sepulcro terás a medida certa.
Somos sempre um pouco menos do que pensávamos.
Raramente, um pouco mais.

“Até quando terás, minha alma, esta doçura, este dom de sofrer, este poder de amar, a força de estar sempre – insegura – segura como a flecha que segue a trajetória obscura, fiel ao seu movimento, exata em seu lugar...?”


Cecília Meireles, "Poesia Completa" – vol. 4

Cristina Garcia Rodero

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Tão cedo passa tudo quanto passa!



                                               
Tão cedo passa tudo quanto passa!
Morre tão jovem ante os deuses quanto
           Morre! Tudo é tão pouco!
Nada se sabe, tudo se imagina.
Circunda-te de rosas, ama, bebe
           E cala. O mais é nada.

 3-11-1923

 Ricardo Reis

Marcel Marceau,"Juventude, Maturidade, Velhice e Morte", 1958, fotografia de Henri Dauman

sábado, 5 de janeiro de 2013

Fade To Grey

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Goddess Eyes

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