quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A Dança da Morte

Der Doten Dantz, Heinrich Knoblochzer

Crê-se que o género artístico da dança da morte teve o seu desenvolvimento em França. O mural da dança da morte do Cemitério dos Inocentes em Paris, pintado em 1424, é considerado como a origem desta tradição (embora tenha sido depois destruído, esta obra chegou até nós através de uma reprodução em livro publicada em 1485 por Guyot Marchant). Outros frescos com o mesmo tema surgiram em Londres (1430), Lubeck (1463) e outras cidades europeias, mostrando que na segunda metade do século XV, a dança da morte ganhou muita popularidade.

As danças eram, na maior parte das vezes, pintadas (ou mais raramente esculpidas) nas paredes exteriores de claustros, de jazigos ou no interior de algumas igrejas. Estes frescos apresentavam um cadáver ou um esqueleto com um sinal distintivo da sua classe social em vida. Podendo variar o número de personagens, a dança da morte tomava muitas vezes a forma de uma farândola. Por baixo ou por cima das pinturas, surgem versos através dos quais a Morte se dirige às suas vítimas. O tom é acusador, por vezes, cínico e sarcástico. Depois vem a súplica do Homem, cheia de remorso e desespero.

Bernt Notke 

Mas a Morte conduz todos à dança - papas, cardeais, bispos, abades, padres, imperadores, reis, nobres, cavaleiros, doutores, mercadores, usurários, ladrões, camponeses,e até crianças inocentes. Ela não se importa com a posição social, nem com a riqueza, sexo ou idade daqueles que puxa para a sua dança. Muitas vezes aparece representada com um instrumento musical. A música assume assim um poder encantatório e diabólico - um pouco à semelhança do canto da sereia ou do flautista de Hamelin...

Antes da criação das primeiras danças da morte, já existia um género literário denominado Vado Mori: poema escrito em Latim, de origem francesa, que remonta ao século XIII. Nestes poemas, os representantes das várias classes sociais também se lamentam sobre a sua morte iminente, mas, ao contrário da dança, nenhum espectro lhes responde. O termo "danse macabre" já era conhecido e usado antes de 1424 (data da criação do mural de Paris). No poema intitulado Respit de la Mort, Jean Lefevre diz:

Je fis de Macabre la danse,
Qui tout gent maine à sa trace
E a la fosse les adresse.


Na Idade Média, a dança da morte era entendida como um aviso para os poderosos, um consolo para os pobres e um apelo para uma conduta de vida mais responsável e cristã. Mas a sua ideia básica é ainda mais simples e intemporal: lembra-nos a efemeridade da vida e que todos morreremos, sem excepção. Não é de admirar pois que todas as épocas tenham a sua dança da morte.


Les Morts musiciens

Vous, qu'une destinée commune
Fait vivre dans des conditions si diverses,
Vous danserez tous cette danse
Un jour, les bons comme les méchants.
Vos corps seront mangés par les vers.
Hélas! Regardez-nous:
Morts, pourris, puants, squelettiques;
Comme nous sommes, tels vous serez.


(Cemitério dos Inocentes - Paris)

Death My Irony Surpasses All Others, Odilon Redon, 1899
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